Escrito por Fernanda Machado
Tomo meu café puro às cinco da manhã, organizando as atividades do dia, a poucas horas de falar sobre cinematografia com alunos do ensino médio. Como acontece com frequência, imagino como me sentiria no lugar deles.
Têm sido muito interessantes esses convites para falar sobre cinema em escolas e universidades. São convites cheios de significado, que chegaram por meio de projetos aos quais me dedico de forma profunda e desafiadora, promovendo o protagonismo jovem — como o Jovem Escritor e o Vamos Fazer um Filminho.
Neles, aplicamos um princípio filosófico simples e poderoso: “Aprende quem ensina — e ensina praticando.”
O processo de ensino-aprendizagem não precisa acontecer de cima para baixo, do adulto para o jovem. Os alunos têm muito a compartilhar entre si — e também a nos ensinar.
Eles não vieram ao mundo como uma tábula rasa.
Lembro-me com igual fervor das aulas interessantes e das tediosas. Ambas foram marcantes. Das tediosas, guardo a lembrança do esvaziamento — a vontade de escapar das quatro paredes, perseguir o sol que adentrava a sala pela janela, e ir ao encontro de algo prático, vivo, de significado profundo — com a própria natureza.
Das aulas interessantes, recordo a adrenalina de criar projetos com colegas de classe, geralmente ultrapassando os limites estabelecidos: a escola se expandindo um pouco mais para o pátio, para os corredores, para o mundo.
O ensino das disciplinas pode — e deve — caminhar cada vez mais integrado às linguagens artísticas. Assim, o aluno torna-se também um multiplicador de aprendizados assimilados.
Afinal, conhecer não é o mesmo que aprender. Aprender requer transmitir — por alguma linguagem — o que se descobriu, ou aquilo que ainda se quer investigar.
Temos a língua falada e escrita, mas também podemos expressar química, matemática, história e filosofia pela dança, pela música, pela performance, pelo audiovisual.
As provas, tais quais as que ainda temos hoje, raramente estimulam o aprendizado.
E se medir resultados é tão importante em nossa sociedade — como de fato deve ser —, talvez devêssemos olhar melhor para isso.
Mobilidade do corpo, trocas livres de ideias e protagonismo jovem.
Coisas simples, nem sempre valorizadas o suficiente.
E uma pergunta se impõe: quem protege crianças e jovens dos preconceitos que nós, adultos, acabamos por desenvolver sobre o mundo?
Quem os liberta, hoje, não apenas das quatro paredes da sala, mas também da prisão das telas?
É mais do que claro que devemos remunerar nossos mestres — nossos queridos professores — com excelência, para que tenham o tempo necessário, tão precioso a um verdadeiro mestre, para o cultivo de seus saberes. Além disso, o ensino, no sentido de mera transmissão de informação, devesse acontecer em doses mais homeopáticas — e também mais inovadoras —, para que o aluno tenha a chance de aprender por si mesmo, seguindo o ritmo da própria curiosidade.
Durante os bate-papos sobre cinema, costumo dizer algo simples, que desperta diálogos longos e acende o desejo de criar nos alunos:
“A tecnologia não é mais obstáculo à criação.
A criação é obstáculo à própria criação — a ideia.
Se apago as luzes, a câmera nada capta.
Cinema é luz refletida sobre os elementos da realidade.”
E falo também sobre inovação: o Trem de Lumière, que um dia causou espanto na sociedade francesa — com pessoas correndo apavoradas, acreditando que seriam atropeladas pelo monstro que saía da tela —, hoje já não nos assusta.
Inovação é uma necessidade constante das linguagens artísticas.
É preciso que os jovens assumam o sonho (como dizia Goddard) — o cinema, a cultura e as artes.
Escrito por FERNANDA G MACHADO, 08/10/2025, de Araçatuba-SP.
Fernanda é jornalista, cineasta, escritora e produtora, com experiência em grandes produções como “O Tempo e o Vento“. Dirigiu o documentário “Arapaima: Redes Produtivas“, reconhecido por seu impacto social. Foi responsável pelo projeto “Jovem Escritor“, que revelou talentos nas escolas públicas. Em 2024, produziu o curta “Fogo no Canavial“. É especialista em publicidade cultural e comunicação estratégica, com ampla experiência em gestão de projetos.
Por: Fernanda Gaiotto, com Conteúdo Estratégico.